
Enquanto a ofensiva militar israelense em Gaza se aproxima de dois anos e acumula mais de 60 mil mortos, turistas israelenses têm enfrentado hostilidade crescente em viagens ao exterior.
Imagens de fome extrema, crianças desnutridas e bombardeios a áreas civis intensificaram protestos internacionais, refletindo-se em episódios recentes de rejeição a cidadãos israelenses em países europeus. Com informações do Globo.
O caso mais recente ocorreu em Creta, na Grécia, onde cerca de 1.500 passageiros israelenses a bordo do navio de cruzeiro Crown Iris foram alvo de protestos organizados por moradores locais. Manifestantes pró-Palestina impediram o desembarque com gritos de “Palestina livre” e faixas contra o que chamaram de genocídio em Gaza. A tropa de choque da polícia grega interveio com gás de pimenta e deteve quatro pessoas.
Foi o terceiro incidente envolvendo o Crown Iris em uma semana. Antes de Creta, o navio já havia sido hostilizado nas ilhas de Rodes e Siros. Em Rodes, treze manifestantes foram detidos. Em Siros, moradores barraram o desembarque com cartazes como “Parem o genocídio” e “Sem ar-condicionado no inferno”. Passageiros israelenses reagiram com bandeiras de Israel e gritos de “que sua aldeia queime”, slogan usado por extremistas.
A crescente rejeição a turistas israelenses também foi registrada em restaurantes e hotéis da Espanha, Itália e Áustria. Em Nápoles, um casal foi expulso de um restaurante após uma discussão sobre o conflito. Em Vigo, o dono de um restaurante gritou “Viva a Palestina livre” e expulsou clientes israelenses. Na Áustria, músicos e turistas relataram discriminação apenas por falarem hebraico.
Diante do episódio em Creta, o chanceler israelense, Gideon Sa’ar, cobrou resposta do governo grego. O ministro da Ordem Pública, Michalis Chrisochoidis, afirmou que quem impedir legalmente a entrada de estrangeiros na Grécia será processado. A Grécia é um dos principais destinos turísticos de israelenses, com voos diários entre Tel Aviv e diversas ilhas do país.
A onda de hostilidade coincide com o aumento das críticas internas em Israel. O líder da oposição, Yair Lapid, alertou sobre o risco de sanções internacionais e disse que “o mundo vai se fechar para os israelenses”. Organizações humanitárias israelenses passaram a usar o termo “genocídio” para descrever a tragédia humanitária em Gaza.
Uma pesquisa recente da consultoria QED mostrou que 55% dos gregos preferem que o país permaneça neutro no conflito, mas os protestos locais vêm se intensificando. Na Grécia, manifestações contra Israel vinham sendo raras, mas desde julho moradores locais têm organizado atos com apoio a Gaza, especialmente nas ilhas turísticas.
Agências de viagem em Israel relatam aumento de 15% a 23% nas reservas para destinos como Praga, Budapeste, Dubai e Tailândia. A mudança no comportamento dos turistas israelenses reflete a busca por locais considerados mais seguros diante da tensão internacional crescente com o governo de Benjamin Netanyahu.