
A Advocacia-Geral da União (AGU) determinou que a Polícia Federal e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) investiguem operações suspeitas no mercado de câmbio horas antes e depois do anúncio das tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O pedido, feito em caráter urgente, visa apurar se investidores tiveram acesso a informações privilegiadas para lucrar com a medida.
A suspeita ganhou força após reportagem do “Jornal Nacional”, da Globo, revelar movimentações anômalas no mercado de dólar no dia 9 de julho. Segundo a apuração, cerca de três horas antes do anúncio oficial de Trump, realizado às 16h17, um investidor comprou entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões a R$ 5,46.
Minutos após a divulgação das tarifas, quando o dólar saltou para R$ 5,60, a mesma quantia foi vendida, gerando lucros expressivos em poucas horas.
Especialistas apontam que a operação segue um padrão já observado em anúncios anteriores de tarifas contra outros países. Spencer Hakimian, gestor de um fundo de investimentos em Nova York, afirmou que a transação indica claramente que alguém tinha conhecimento prévio da medida. “Esse movimento é incomum e sugere que informações confidenciais vazaram antes do anúncio oficial”, disse Hakimian.

Paul Johnson, professor de finanças da Fordham University, reforçou a tese: “O caso brasileiro apresenta todas as características de operação com informação privilegiada, mas a capacidade de investigação nos EUA é limitada, pois os órgãos reguladores estão sob controle do governo Trump”.
Nos Estados Unidos, parlamentares democratas tentaram abrir investigações sobre operações semelhantes relacionadas a tarifas contra a União Europeia e países africanos, mas esbarraram na resistência da maioria republicana no Congresso.
No Brasil, as autoridades enfrentam outro obstáculo: parte substancial das operações suspeitas pode ter ocorrido em mercados internacionais, fora da jurisdição da CVM. A PF, no entanto, poderá investigar eventuais conexões locais e a participação de brasileiros nas transações.