POLÍTICA

Zelensky admite ceder território pela 1ª vez, mas quer consulta popular

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Foto: Francesco Fotia/Reuters

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, admitiu pela primeira vez que seu país pode perder parte de seu território em um eventual acordo de paz, desde que isso seja aprovado por meio de consulta popular. O mandatário disse que Kiev poderia abrir mão dos cerca de 20% que ainda controla de Donetsk, caso haja um referendo “ou eleição” que valide a decisão.

“Se você está falando num acordo, então tem de ser um acordo justo”, afirmou ao comentar a resposta enviada aos americanos sobre os termos propostos por Donald Trump. Zelensky detalhou que os EUA pressionam para transformar a área em uma “zona econômica livre”, o que ele classificou como um eufemismo para um território-tampão semelhante ao previsto no plano original do republicano.

Ele disse que só aceitaria discutir o tema se os russos deixarem regiões menores ocupadas fora das quatro áreas anexadas por Moscou em 2022. O presidente também reconheceu que as negociações não têm prazo definido, apesar de Trump querer um desfecho até o Natal.

Outro entrave é o controle da usina nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, ocupada pelos russos desde o início da guerra. Zelensky afirmou que Ucrânia e Rússia reivindicam o controle, enquanto os EUA sugeriram uma administração compartilhada, possivelmente sob supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica, proposta que ele considera inviável.

Região de Donetsk bombardeada em meio à guerra entre Ucrânia e Rússia. Foto: Stepanov/AFP

Ele também demonstrou desconforto com o diálogo direto entre Trump e Putin: “Quais são os acordos separados entre os EUA e a Rússia? Não sabemos”. O presidente ucraniano reconheceu ainda que pode ser obrigado a revisar a lei eleitoral para permitir eleições mesmo sob lei marcial, tema pelo qual Trump já o pressionou publicamente, chamando-o de “ditador sem eleições”.

Zelensky respondeu que isso só seria possível com um cessar-fogo. Ele enfrenta críticas internas em meio a perdas militares e ao impacto de um escândalo de corrupção que derrubou ministros e seu chefe de gabinete, Andrii Iermak.

Os EUA querem que a Ucrânia adote neutralidade militar e reduza suas Forças Armadas. Segundo Zelensky, Washington propôs limitar o efetivo a 600 mil soldados, abaixo dos 800 mil atuais. Na semana passada, enviados de Trump discutiram com Putin a contraproposta ucraniana, mas o presidente russo manteve suas exigências máximas. Lavrov afirmou que “não há mais desentendimentos” entre Rússia e EUA sobre o que Moscou espera.

Zelensky também se reuniu virtualmente com líderes da Coalizão dos Dispostos, formada por Alemanha, Reino Unido e França. Os europeus foram pressionados por Trump para forçar Kiev a ceder mais nas negociações. O ucraniano, porém, defende participação europeia direta nas garantias de segurança, sobretudo no que diz respeito a evitar novos ataques russos caso um acordo seja assinado.

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