AMÉRICA LATINAMUNDO

Agressão à Venezuela é agressão ao Brasil e Lula deve se solidarizar a Maduro

A escalada de ataques do governo do presidente estadunidense Donald Trump contra a Venezuela impressiona pela maneira agressiva, explícita e arrogante como é realizada.

Há alguns meses, o secretário de Defesa, Pete Hegseth, cuja pasta foi recentemente rebatizada como Departamento da Guerra, assumiu sem disfarce a intenção de reconduzir o hemisfério à condição de “quintal dos Estados Unidos”.

Agora, com base no pretexto da guerra às drogas, os Estados Unidos incursionam em uma escalada belicista real contra um país soberano, uma guerra ilegal e não declarada, que busca subjugar, diretamente ou pelo exemplo, todo o continente latino-americano. O alvo é pleno de significados: a Venezuela, sede da revolução bolivariana e berço de Simón Bolívar, herói máximo da libertação da “Pátria Grande” — o continente — do domínio colonial.

As ações e ameaças do aspirante a imperador de plantão são flagrantemente ilegais. Baseiam-se em informações falsas, inventadas para justificar uma ingerência injustificável.

Os EUA deslocaram navios de guerra para o mar do Caribe e mantêm pelo menos dez embarcações, com 10 mil homens, próximas à costa venezuelana, sob o pretexto de combater o “narcoterrorismo”.

Ataques indiscriminados a botes na região provocaram ao menos 27 mortos e já há notícias dos primeiros sobreviventes resgatados do mar. Os botes são bombardeados sem critério rigoroso, sem aviso nem chance de defesa. Entre as vítimas não há apenas venezuelanos, mas humildes pescadores de Trinidad e Tobago e da Colômbia.

Não há notícias de droga que tenha sido apreendida, mesmo porque algum eventual produto que houvesse nos botes simplesmente é estraçalhado pelas bombas. Chega a ser ridículo imaginar que o fornecimento da droga consumida pelos estadunidenses circule em barquinhos de alumínio e motor de popa a partir de um país, a Venezuela, que não produz nem está no trajeto desse tipo de comércio. Filmadas e divulgadas pelos ianques, o objetivo das ações é só um: execuções extrajudiciais que pretendem provocar intimidação indiscriminada para fabricar um conflito e preparar uma invasão para derrubar o governo, camuflada por um suposto combate a um tal “Cartel de Soles”, facção simplesmente inexistente.

A operação de assassinatos é tão disparatada e ilegal que pode estar por trás do surpreendente pedido de demissão do próprio alto oficial responsável por supervisioná-la, o almirante Alvin Holsey, chefe máximo do Comando Sul das Forças Armadas dos EUA. Encarregado de comandar as ameaças no Caribe e na América Latina, Holsey renunciou sem explicações, após apenas um ano no cargo.

Na última quarta-feira (15), Trump confirmou ter autorizado a CIA, agência de espionagem norte-americana com um histórico de golpes e interferências na América Latina, a realizar operações secretas na Venezuela com o objetivo de derrubar o governo de Nicolás Maduro e até mesmo de assassinar o presidente.

Não é a primeira vez que a Venezuela se prepara para rechaçar invasões estadunidenses. Agora estão mobilizados e armados 5 milhões de cidadãos em todas as comunidades, fronteiras e litoral.

Será preciso enfrentar inimigos internos também, como a recém-empoderada com o Nobel da Paz María Corina Machado, extremista de direita que incentiva as ameaças de invasão de Trump.

A Venezuela pediu na semana passada ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que impeça o governo dos Estados Unidos de cometer um “crime internacional”, mas recebeu apenas o apoio de alguns membros liderados por seus maiores aliados, China e Rússia.

O presidente Lula tem assumido uma atitude cada vez mais altiva em relação à agressão de Trump. Mesmo num momento de relativo desanuviamento das relações com o governo Trump, Lula não se omitiu em rechaçar qualquer intervenção, afirmando que o povo venezuelano, só ele, é o dono dos destinos do país. Lula, aliás, deveria demonstrar, de maneira realista, independentemente dos desencontros havidos no processo eleitoral venezuelano, total solidariedade a Maduro. Poderia aproveitar as negociações com Trump para, em paralelo, contribuir para a abertura de canais de diálogo e distensão entre Washington e Caracas.

Cada vez fica mais claro que a escalada dos EUA contra a Venezuela não é um tema apenas venezuelano.

Com Brasil 247

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