POLÍTICA

Chef aceita emprego por impulso e acaba presa seis meses em navio

O que você faria se ficasse preso em um navio, longe dos seus entes queridos e não tivesse ideia de como — ou quando — iria voltar para casa?

Na virada de 2019 para 2020, a italiana Giulia Baccosi, de 31 anos, tomou uma decisão que mudaria sua vida. Durante uma festa de réveillon, ela aceitou por impulso um emprego como cozinheira a bordo do Avontuur, um navio cargueiro centenário que transportava rum e azeite da Europa para a América Central. O que seria uma viagem de três meses se transformou em uma odisseia de seis meses no mar, marcada pelo isolamento e pela pandemia de covid-19.

A embarcação partiu da Alemanha em janeiro de 2020 e seguia rumo ao Caribe quando o mundo começou a fechar fronteiras. Em alto-mar, a tripulação recebeu a notícia de que portos e aeroportos estavam sendo fechados, sem entender a dimensão da crise global. Sem poder desembarcar, Giulia e os outros 14 tripulantes ficaram confinados a bordo por meses, racionando comida e combustível enquanto tentavam manter a sanidade em meio ao confinamento.

Durante a viagem, o grupo viveu momentos dramáticos e emocionantes. Antes do isolamento, o Avontuur resgatou 16 migrantes africanos que estavam à deriva há mais de dez dias no Atlântico, sem água nem comida. Já no auge da pandemia, enfrentaram tempestades e até a ameaça de um furacão, precisando improvisar uma cozinha com materiais simples para continuar alimentando a tripulação.

O confinamento trouxe também laços inesperados. Baccosi relatou à BBC que os tripulantes buscavam formas de aliviar o tédio e a solidão, fazendo artesanato, tocando instrumentos e, em alguns casos, se envolvendo em relacionamentos amorosos. Entre o medo e a esperança, ela escreveu em seu diário sobre o desejo de “sentir a grama sob os pés e ouvir vozes humanas novamente”.

Giulia Baccosi trabalhando na cozinha do navio

Depois de 188 dias navegando sem poder atracar, o Avontuur finalmente chegou à Alemanha em julho de 2020. A bordo, havia 64 toneladas de café, cacau, azeite e rum trazidos do Caribe — e uma tripulação profundamente transformada pela experiência. “O mundo que conhecíamos não existia mais”, recorda Giulia. “Voltei diferente e não sabia como me encaixar na minha velha vida.”

Cinco anos depois, Giulia continua no mar. Hoje, trabalha novamente como cozinheira em um navio próximo à Groenlândia. Para ela, o episódio serviu como uma lição sobre liberdade, resiliência e destino. Assim como naquela noite de Ano Novo, ela ainda olha para o céu em busca de um sinal de que está no caminho certo.

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