POLÍTICA

Principal candidato de Milei em Buenos Aires é acusado de ligação com o narcotráfico

José Luis Espert e Javier Milei, presidente da Argentina. Foto: reprodução

Uma denúncia de financiamento do narcotráfico abala a campanha eleitoral do partido de Javier Milei para as eleições legislativas de 26 de outubro na Argentina. O deputado José Luis Espert, primeiro candidato da ultradireita em Buenos Aires, é acusado de ter recebido dinheiro e benefícios de Federico “Fred” Machado, empresário preso por tráfico de drogas e com pedido de extradição dos Estados Unidos.

Espert admitiu neste domingo conhecer Machado e ter viajado em um avião de sua propriedade, mas negou saber de seus crimes. O caso expõe fragilidades da coalizão governista La Libertad Avanza (LLA) no maior distrito eleitoral do país, onde quase 40% dos argentinos votam e onde Milei tenta recuperar apoio após derrotas para o peronismo. A denúncia ganha peso adicional por ocorrer dias depois de um feminicídio ligado ao crime organizado, que causou grande comoção social.

Conhecido pelo bordão “Cárcel o bala” (“Prisão ou bala”) Espert, 63 anos, é economista ultraliberal e foi eleito deputado em 2021. Sua relação com Milei foi marcada por idas e vindas: já foram aliados, romperam após acusações mútuas e se reaproximaram em 2023, quando o atual presidente se preparava para chegar à Casa Rosada. Este ano, Milei o colocou como cabeça de chapa em Buenos Aires.

A acusação remete à campanha presidencial de 2019, quando Espert obteve 1,47% dos votos. Naquele período, teria utilizado avião e caminhonete ligados a Machado, além de ter recebido 200 mil dólares do empresário. O valor aparece em documentos da promotoria do Texas contra Machado e sua sócia Debra Lynn Mercer-Erwin, já condenada. O dado foi revelado por jornais argentinos e incluído em denúncia apresentada pelo candidato peronista Juan Grabois por lavagem de dinheiro.

Machado, 53 anos, tem negócios em mineração, construção e aviação. Está preso desde 2021 na província de Río Negro, acusado nos EUA de associação criminosa, tráfico de cocaína, lavagem de dinheiro e fraude. Segundo a acusação, usava a compra fraudulenta de aviões para transportar drogas.

Espert classificou as denúncias como “campanha suja” orquestrada pelo kirchnerismo. No entanto, críticas semelhantes já haviam partido da própria base de Milei: em 2021, o deputado ultradireitista Agustín Romo o chamou de “valijero” que aceitava favores de um narcotraficante, e Lilia Lemoine afirmou que Espert havia entrado na política “por dinheiro” com apoio de um “narco”.

A polêmica também chega ao Congresso. A oposição peronista anunciou que pedirá a destituição de Espert da presidência da comissão de Orçamento da Câmara dos Deputados, justamente quando começa o debate da lei orçamentária de 2026. “Não se pode discutir seriamente o orçamento com um deputado com vínculos com o narcotráfico comandando a comissão”, disse Germán Martínez, líder da bancada peronista.

O caso ainda envolve outro ponto delicado para Milei: um dos advogados de Machado é Francisco Oneto, militante da ultradireita e defensor do presidente em processos judiciais, entre eles uma investigação sobre suposta fraude ligada à criptomoeda $Libra, lançada no início de 2025 com apoio de Milei.

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