
Quase todas as informações sobre Paulo Figueiredo têm, depois do nome dele, uma vírgula e o acréscimo dessa informação qualificadora: neto do ditador João Batista Figueiredo.
Temos os filhos de Bolsonaro e o neto do ditador como as figuras mais impositivas e assertivas da linha de frente da extrema direita hoje. São eles os que mais falam em voz alta, os filhos e o neto.
Paulo Figueiredo é apresentado como blogueiro e influencer. Mora há 15 anos nos Estados Unidos, de onde manda recados ameaçadores a Alexandre de Moraes e ao STF avalizados por Eduardo Bolsonaro.
Não tem mandato, não tem expressão na estrutura orgânica da direita brasileira, mas é neto de Figueiredo e ganha manchetes nos jornalões como emissário das mensagens do fascismo, porque tem seguidores nas redes.
Em uma das últimas manchetes que inspirou, compartilhada por vários veículos que o acompanham, Figueiredo respondeu ao presidente do PP, Ciro Nogueira, que havia cobrado bom senso da direita no planejamento para 2026.
Figueiredo escreveu nas redes sociais: “É verdade, Ciro. Concordo com a falta de bom senso. Acredita que ainda tem meia dúzia que levam fé em acordos Caracu com o establishment? Que tem velhaco que não entendeu que a crise diplomática com os EUA só tem fim com anistia ampla, geral e irrestrita? É gente sem noção”.
Ciro Nogueira é o dono do PP, que já foi, quando ainda era Arena, o maior partido do Ocidente. Tem 50 deputados federais e oito senadores. São dois governadores e 752 prefeitos.
Ciro Nogueira duela com um influencer que, antes de Bolsonaro dizer qualquer coisa, já adianta que a anistia só será aceita se for ampla, geral e irrestrita. Figueiredo fala e Nogueira pede calma, porque o neto frequenta a Casa Branca.
Ele, Allan dos Santos, Eduardo e Carla Zambelli estão fora do país. Eram ou ainda são ouvidos na base bolsonarista extremada, com raízes cravadas em torno de Bolsonaro. São ou foram as vozes que produzem eco.
Figueiredo e Eduardo já foram indiciados pelas ameaças ao sistema de Justiça. Daqui a pouco serão réus. Carla Zambelli está contida na Itália. O ex-deputado e presidiário Daniel Silveira ganhou agora o direito de passar o dia em casa.

São figuras que participaram dos primeiros movimentos do golpismo, como gritões, mas estão em situação anormal, agora sob a liderança do filho do chefe da organização criminosa e do neto do ditador.
Os jornalões, que oferecem manchetes a Eduardo e Figueiredo, normalizam o ambiente em que essas figuras agem, como se invertessem a situação clássica em que democratas, fora do seu país, expõem desmandos no poder.
Figueiredo e Eduardo são dois fascistas agindo no Exterior contra a democracia do país que deveriam defender. Um sem mandato, sem votos e sem liderança dentro de partidos, mas com ‘base social’ nas redes.
E o outro como deputado em situação esdrúxula, ainda com mandato, porque Hugo Motta é fraco e vacilante.
Como outras figuras estridentes atualmente estão em silêncio, como Malafaia, são esses dois que mantêm, sob o ponto de vista das falsas equivalências criadas pelos jornalões, as vozes fascistas nas capas da grande imprensa.
O filho de Bolsonaro e o neto do ditador são os personagens da tentativa de conspiração permanente, agora de fora do Brasil, para que Bolsonaro seja poupado e a confusão se prolongue.
É uma situação que revela muita coisa e que denuncia a precariedade da extrema direita, que depende hoje muito mais de Ciro Nogueira, Valdemar Costa Neto, Guilherme Kassab e Antonio Rueda do que de figuras que deveriam ser a tropa de choque do bolsonarismo.
O filho e o neto são a prova de que o fascismo não tem coesão interna, não tem vozes relevantes dentro do Brasil e não tem nem mesmo vontade para defender Bolsonaro.
Eduardo e Figueiredo salvam os jornais, por oferecerem essa ‘equivalência’ que, sem eles, não teria como existir na forma de notícias e de manchetes geralmente forçadas. Sem o filho e o neto, a gritaria do bolsonarismo estaria prejudicada.