
O assessor jurídico do deputado federal Nikolas Ferreira, Thiago Rodrigues de Faria, aparece como intermediário em um contrato milionário ligado à empresa Gmais Ambiental, investigada pela Operação Rejeito. Segundo a Polícia Federal, a companhia seria de fachada e controlada de forma oculta pelo delegado Rodrigo Teixeira e pelo lobista Gilberto Carvalho, ambos ligados ao PL mineiro e presos na operação.
O contrato, firmado em janeiro deste ano, previa a negociação de uma lavra minerária em Minas Gerais. As informações constam no inquérito da Justiça Federal, obtido pelo jornal Estado de Minas.
O documento mostra que Rodrigues, dono de um escritório de advocacia aberto em 2024, assinou um contrato de intermediação em sociedade com a Gmais e a mineradora Topázio Imperial, que detém direitos sobre uma barragem considerada de alto risco em Ouro Preto.
O acordo estabelecia percentuais de lucro em caso de sucesso na reativação da área: 25% para o escritório de Thiago, 25% para a Estabil Contabilidade e 50% para a Gmais. De acordo com a PF, a transação foi feita por meio de um contrato de confiabilidade, que ocultava os nomes dos beneficiários.
As cifras em jogo chamaram atenção: valores estimados entre US$ 30 e 45 milhões, com comissões de até 20%. A barragem envolvida no negócio, chamada Água Fria, é apontada pelo Ministério Público Federal como uma das sete com maior risco de rompimento no país, em condições semelhantes às que antecederam os desastres de Mariana e Brumadinho.
As investigações revelam ainda que a Gmais Ambiental funcionava em endereço de uma clínica de estética em Belo Horizonte. A empresa chegou a ter Gilberto Carvalho como sócio, mas oficialmente o posto foi assumido por seu marido, Luiz Fernando Vilela Leite.

Com a deflagração da Operação Rejeito, a Gmais teve suas atividades suspensas, bens bloqueados e sigilos quebrados. Mensagens interceptadas pela PF apontam que Thiago Rodrigues criou em abril de 2024 um grupo de WhatsApp chamado Projeto Ferro, no qual discutia os termos da negociação junto a Carvalho e Teixeira.
Em uma das conversas, Rodrigues pede uma reunião com alguém identificado como “R”, que os investigadores identificaram como Rodrigo Teixeira. Diversas versões de contratos circularam no grupo antes do fechamento do acordo final.
A Polícia Federal também aponta que Rodrigo Teixeira, que atuava como diretor do Serviço Geológico Brasileiro, teria utilizado empresas e pessoas interpostas para operar no mercado minerário, em articulação com empresários suspeitos de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
João Alberto Paixão Lages, ex-deputado estadual preso na mesma operação, também foi citado em versões preliminares das negociações. O lobista Gilberto Carvalho, aliado do PL mineiro, teve forte apoio de Nikolas Ferreira em sua candidatura ao comando do Crea-MG.
Ele também assessorou políticos do partido em Minas, incluindo a coronel Cláudia Romualdo, que disputou a vice-prefeitura de Belo Horizonte em 2024. A PF aponta que Carvalho exercia influência direta sobre o Legislativo e órgãos públicos em benefício de interesses privados.
Em nota, Nikolas Ferreira afirmou que o contrato citado “diz respeito a uma área disponível no mercado” e que Thiago Rodrigues, como advogado, pode atuar em negociações desse tipo dentro de sua atividade privada. O parlamentar ressaltou que não possui qualquer relação com o negócio. Já Thiago Rodrigues declarou que recebeu a proposta para tentar vender a lavra e que agiu dentro da legalidade como advogado regularmente inscrito.