
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) já definiu suas primeiras ações após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por atuar nos Estados Unidos em busca de sanções contra autoridades brasileiras, junto ao governo de Donald Trump. O gesto do presidente estadunidense de abrir canal de comunicação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não fez o parlamentar recuar em sua atuação para pressionar e ameaçar autoridades brasileiras com novas punições internacionais.
Desde a semana passada, segundo Bela Megale do Globo, Eduardo passou a tratar com autoridades estadunidenses sobre o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF). As declarações públicas do decano do STF em defesa do ministro Alexandre de Moraes, além dos elogios às manifestações populares contra a PEC da Blindagem e a anistia, colocaram Gilmar Mendes como novo alvo do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro.
“As manifestações de hoje contra a anistia dos atos golpistas são a prova viva da força do povo brasileiro na defesa da democracia. Em diferentes momentos, registraram-se demonstrações de apoio ao Supremo Tribunal Federal, que esteve, mais uma vez, à altura da sua história, cumprindo com coragem e firmeza a missão de proteger as instituições e responsabilizar exemplarmente os que atentaram contra o Estado Democrático de Direito”, escreveu recentemente o ministro Gilmar Mendes no X.
As manifestações de hoje contra a anistia dos atos golpistas são a prova viva da força do povo brasileiro na defesa da democracia. Em diferentes momentos, registraram-se demonstrações de apoio ao Supremo Tribunal Federal, que esteve, mais uma vez, à altura da sua história,…
— Gilmar Mendes (@gilmarmendes) September 22, 2025
Mensagens apreendidas pela Polícia Federal e trocadas entre Jair Bolsonaro e seu filho haviam mostrado o ex-presidente pedindo que Eduardo deixasse de lado qualquer crítica a Gilmar Mendes. Atualmente, no entanto, pai e filho estão proibidos de se comunicar por serem investigados na mesma ação penal.
No final de julho, o deputado e o ex-apresentador da Jovem Pan Paulo Figueiredo afirmaram que trabalhavam para excluir o decano e o então presidente do STF, Luís Roberto Barroso, de punições via Lei Magnitsky. O movimento foi mal recebido no Supremo Tribunal Federal.
Agora, o grupo de Eduardo Bolsonaro traça um roteiro tendo Gilmar Mendes como alvo, similar ao utilizado contra Alexandre de Moraes. Dois meses depois de sancionar o ministro Moraes, os Estados Unidos incluíram sua esposa, Viviane, na Lei Magnitsky. O parlamentar e seus aliados têm conversado com autoridades estadunidenses também sobre familiares de Gilmar Mendes, como sua esposa Guiomar, que é advogada e sócia de um escritório de advocacia.
No sábado (27), Paulo Figueiredo mencionou em redes sociais a possibilidade de as punições, no caso de Moraes, serem ampliadas para os filhos do ministro, além de sócios do escritório e do instituto de seus familiares. Essa tem sido outra frente de pressão discutida nas reuniões de Eduardo Bolsonaro com representantes estadunidenses.
Uma coisa que talvez as pessoas desconheçam é que há mais do que base jurídica suficiente para a extensão da GloMag (Magnistky) aos 3 filhos de Alexandre: Alexandre Jr, Giuliana e Gabriela. Os três, sócios do Instituto Lex (com 25% cada) e também no Barci de Moraes Advogados,…
— Paulo Figueiredo (8) (@pfigueiredo08) September 27, 2025
No Supremo, as ações de Eduardo Bolsonaro contra Gilmar Mendes são vistas como mais uma tentativa de coagir a corte a livrar o ex-presidente da prisão. Jair Bolsonaro foi condenado no mês passado a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado. Os ministros têm reiterado que não cederão às ameaças do deputado e afirmam que seguirão firmes na defesa institucional do tribunal.
Nesta segunda-feira, o ministro Alexandre de Moraes se manifestou sobre o caso em decisão judicial, afirmando que o parlamentar está nos Estados Unidos para “reiterar a prática criminosa e evadir-se de possível responsabilização judicial”.
O ministro determinou que Eduardo Bolsonaro seja notificado por edital da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República, devido à sua atuação para pressionar o governo estadunidense a impor sanções e tarifas ao Brasil.
“O denunciado, de maneira transitória, encontra-se fora do território nacional, exatamente, conforme consta na denúncia, para reiterar a prática criminosa e evadir-se de possível responsabilização judicial, evitando, dessa maneira, a aplicação da lei penal.
Tal fato é confessado expressamente pelas postagens realizadas pelo denunciado nas redes sociais”, escreveu Moraes em sua decisão. A situação revela a escalada da crise institucional entre o Poder Judiciário brasileiro e o grupo bolsonarista no exterior.