
A Fundação Open Society, comandada por Alex Soros, filho do bilionário e megadoador democrata George Soros, tornou-se alvo de uma investigação da administração Trump.
O movimento, parte de uma ofensiva mais ampla contra instituições ligadas a causas progressistas, provocou temor entre fundações e doadores, mas também uma postura desafiadora de seus dirigentes.
Na quinta-feira (25), durante um painel em Manhattan com líderes globais e filantropos, Alex Soros declarou que a organização, avaliada em US$ 23 bilhões, não recuaria diante das pressões. Segundo presentes, o dirigente afirmou que o trabalho de direitos humanos da fundação só terminaria “sobre o meu cadáver”.
As declarações vieram em resposta à reportagem do New York Times, que revelou que um alto funcionário do Departamento de Justiça ordenou a procuradores federais que elaborassem planos para investigar a Open Society Foundations, criada por George Soros.
O episódio se soma a um movimento mais amplo do presidente Trump, que tem usado os órgãos federais de investigação contra adversários políticos e grupos considerados hostis. O ex-diretor do FBI James Comey, por exemplo, foi indiciado na quinta-feira, apesar da oposição de promotores de carreira.
A ofensiva contra a Open Society ganhou força após o assassinato do ativista conservador Charlie Kirk, episódio usado pela Casa Branca para acusar — sem provas — organizações liberais de fomentar violência política. Trump assinou um memorando ordenando investigações sobre “indivíduos e instituições ricas” que, segundo ele, estariam financiando protestos e ações radicais.
Essa escalada deixou o setor filantrópico em alerta. A Ford Foundation, com patrimônio de US$ 16 bilhões, chegou a cancelar um jantar em homenagem ao seu então presidente Darren Walker por motivos de segurança.

Akilah Watkins, presidente da Independent Sector — que representa organizações sem fins lucrativos e fundações nos EUA — afirmou ao Times que “organizações estão sendo perseguidas pelo que financiam e por quem financiam, simplesmente por não se alinharem às preferências políticas de um governo. Isso é errado”.
George Soros, hoje com 95 anos, já se afastou das funções diárias da fundação, mas permanece como figura simbólica de longa data no financiamento de causas democratas. Alex Soros, de 39 anos, assumiu a presidência do conselho e tem atuado de forma mais direta tanto na política quanto na fundação, reforçando a resistência à pressão do governo.
Alex esteve em Brasília em agosto. Durante a visita, ele se reuniu com autoridades brasileiras, entre elas Fernando Haddad, para tratar da agenda da COP30, conferência climática da ONU que será sediada em Belém (PA) em novembro.
A própria Open Society já foi alvo de perseguição em outros países. Na Hungria, sob o governo de Viktor Orbán, a instituição foi forçada a encerrar atividades. Agora, nos EUA, teme-se que um processo judicial possa consumir recursos significativos e desviar energia de seus programas.
Ainda assim, pessoas próximas à fundação disseram ao New York Times que existe confiança na sua capacidade de resistir, tanto pela robustez financeira quanto pelo histórico de enfrentar governos autoritários em diferentes partes do mundo.
Apesar do clima tenso, entre aliados de Soros circula um humor sombrio. Em um coquetel em Manhattan, nesta semana, um dirigente brincou com os presentes: “Aproveitem a festa, pode ser a nossa última noite de liberdade antes da prisão”.