POLÍTICA

‘Colete de imprensa é alvo’, afirma jornalista que cobre Gaza

“Em Gaza, o colete de imprensa é alvo. O jornalista é a voz das pessoas e o olhar do mundo”, afirmou Moneed Saada, de Khan Yunis, durante a roda de conversa “Diálogo sobre a Palestina”, em parceria com a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ). O encontro desta quinta-feira (25/09) marcou um momento histórico entre jornalistas brasileiros, colegas palestinos e o Embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben.

Em seu relato, o jornalista relembru que as forças israelenses “destruíram todos os escritórios e veículos de imprensa” e relembrou que os jornalistas palestinos trabalham sem proteção, com câmeras quebradas e celulares velhos.

Nos últimos 22 meses, a guerra em Gaza se tornou o conflito mais mortal para jornalistas da história. Segundo dados da Embaixada da Palestina, mais de 300 jornalistas foram assassinados até agora – sendo em média 250 em Gaza e 50 na Cisjordânia.

“Os jornalistas palestinos trabalham sob bombardeios de aviões, tanques e metralhadoras do exército de ocupação, que não distingue entre jornalistas e civis. Hoje, todos vivem em tendas em situação trágica, caótica e desumana”, afirmou o presidente do Sindicato dos Jornalistas Palestinos, Nasser Abu Baker.

O sindicato já documentou a prisão de mais de 200 profissionais, o ferimento de mais de 400, e a destruição de 120 instituições de mídia em Gaza. Além disso, cerca de 600 familiares de jornalistas – filhos, filhas e parentes diretos – foram mortos, e todas as casas dos jornalistas foram destruídas.

O sindicalista completou relatando que “há também a guerra da fome e da escassez: nossos colegas trabalham sem comida, sem água, sem medicamentos. Mesmo assim continuam firmes no desafio de registrar e mostrar a realidade, porque sabem que o objetivo de matar jornalistas é tentar assassinar a verdade”.

O Sindicato dos Jornalistas já registrou mais de 2 mil agressões contra profissionais e instituições de imprensa em Jerusalém e na Cisjordânia, além de mais de mil barreiras militares que impedem a livre circulação da população. Netanyahu decidiu fechar a fronteira entre a Cisjordânia e a Jordânia, o que isola milhões de pessoas.

A ocupação continua matando e cometendo violações sem discriminação
WAFA

Todos os jornalistas em Gaza foram deslocados de suas casas. Muitos foram expulsos até sete ou oito vezes, junto com suas famílias, vivendo em tendas. Pelo menos 200 familiares de jornalistas foram mortos, e 34 jornalistas se tornaram mártires com suas famílias. Além disso, 72 jornalistas foram forçados a deixar a Faixa de Gaza definitivamente.

Fidaa Asaliya afirmou que já deslocou ao menos 16 vezes, “não temos abrigo, estamos nas ruas enfrentando escassez de luz, água, comida e internet”. A jornalista ainda declarou que “talvez seja a última vez” em que ela fale com as pessoas, devido a intensificação dos ataques sionistas no enclave.

“Talvez essas sejam as últimas palavras que estejamos trocando, estamos pagando com a própria vida para levar a verdade ao mundo”, reiterou o jornalista Samir Khalifa. O Embaixador da Palestina informou que a tenda, de onde os jornalistas de Gaza falaram hoje pela manhã, foi bombardeada meia hora após a reunião. A Embaixada não tem informação sobre vítimas e estão tentando contato para saber se conseguiram escapar.

Ressaltando também as dificuldades que as mulheres enfrentam, ela relembrou que durantes meses, muitas jornalistas têm carregado, além das responsabilidades profissionais, também as domésticas, com meios precários. “Precisam de produtos de higiene, materiais de limpeza e até ferramentas básicas de jornalismo, para garantir não só a subsistência de suas famílias, mas também um ambiente adequado de trabalho”.

E concluiu dizendo que, diante de tudo isso, a principal meta continua sendo a mesma: “fazer justiça ao povo palestino e transmitir ao mundo a realidade do que ocorre em Gaza”. A palavra que define esse trabalho é “resiliência”, pois os jornalistas palestinos têm mostrado ao mundo, com coragem, a verdade dessa guerra.

O exército israelense impediu jornalistas internacionais de entrar no território para cobrir a guerra, e dizimou a própria comunidade midiática de Gaza. Segundo o direito internacional, jornalistas devem ser protegidos por civis, mas o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) afirma que Israel está “se engajando no esforço mais mortal e deliberado para matar e silenciar jornalistas que nossa entidade já documentou”.

Com quedas de energia e internet, por conta do cerco ilegal de Israel, um correspondente palestino relatou a insegurança. “Estão a poucos metros da nossa tenda, podemos sofrer um crime bárbaro a qualquer momento. Peço aos jornalistas do mundo que pressionem o exército assassino israelense. Nosso último reduto é a tenda dos jornalistas em Gaza”, comentou.

Desde 7 de outubro, 3,4 mil jornalistas foram impedidos de cobrir os acontecimentos – algo sem precedentes na história contemporânea. Isso mostra que o objetivo da ocupação desde o início era evitar a cobertura dos crimes contra a humanidade.

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